Wednesday, January 9, 2013

Os muros absurdos

Para um homem, compreender o mundo é reduzi-lo ao humano, marcá-lo com o seu selo. O universo do gato não é o universo do formigueiro. O truísmo de que "todo pensamento é antropomórfico" não tem outro sentido. Assim também o espírito procura compreender a realidade só pode se considerar satisfeito se a reduz em termos de pensamento. Se o homem reconhecesse que também o universo pode amar e sofrer, ele estaria reconciliado. Se o pensamento descobrisse nos espelhos cambiantes fenômenos, relações eternas que pudessem resumi-los e se resumirem elas próprias num princípio único, se poderia falar de uma felicidade do espírito de que o mito dos bem-aventurados seria apenas um ridículo arremedo. 


Camus, A. O Mito de Sísifo: ensaio sobre o absurdo. 2ª ed. Rio de Janeiro, RJ: Guanabara, 1989

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